Pontes de Afeto
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O que são relações saudáveis?

Meu priminho.

Vai lá, rapidinho, ler o primeiro e o segundo texto, se ainda não os leu, para acompanhar a coisa toda. Agora volte para ler como outras ilhas | pessoas | surgem e somem do seu mar e como acontece a interação entre os habitantes. Tudo isso para criar uma metodologia que te ajude a responder a pergunta principal.

Ah! Você desenhou sua ilha? Sem isso, sério, não dá para continuar. Pelo menos desenhe mentalmente.

Agora sim. Voltemos.

Entre as várias estatais, você possui uma chamada Construtora de Relações. É a maior e mais importante empresa da ilha, surgiu na primeira interação que você teve com um outro ser humano. Viu, é uma das mais antigas. Ela possui dois setores fundamentais e vou falar praticamente durante todo o texto sobre eles. Enquanto lê, você perceberá a metáfora em relação as pessoas da sua vida.

Reforço a ideia inicial. É te oferecer um método fofinho e divertido para que reflita a saúde das suas relações, a perspectiva que realmente importa, como disse no primeiro texto.

Destaco que é uma estatal a Construtora de Relações, pois veremos a existência de empreendimentos privados em você, além de parcerias públicos-privadas.

Ilhas Percebidas

Para cada pessoa que você interage seus habitantes criam uma ilha para ela no seu mar. Isso é muito importante. Não é a ilha da pessoa que surge, são seus habitantes que, a partir das impressões e percepções, desenham o projeto na Construtora e executam o serviço.

Todas, todas a pessoas surgem como ilhas em seu mar, gostando ou não, viva ou não, próxima ou distante.

Assim, em volta de sua ilha existe um arquipélago de Ilhas Percebidas, cada uma sendo a sua ideia de uma pessoa. A ilha sobre mim que existe em você, nesse instante, possivelmente está recebendo algumas alterações. Como lê o meu texto, são novas informações que sua estatal está recebendo sobre a ilha que me representa e talvez esteja realizando alterações nessa minha representação.

Em algum dado momento, seus habitantes acabam por utilizar alguns modelos | os modelos culturais | para agilizar a criação de ilhas. Eles pesquisam no Google, no Netflix, nos jornais que você lê e assiste, enfim, toda cultura que seus habitantes consomem por meio de você acaba por servir como material de consulta para a construção das ilhas, como também de outros projetos. Por exemplo, quando você conhece uma pessoa negra, seus habitantes já começam a desenvolver uma ilha que a define como pobre.

Quais modelos culturais seus habitantes utilizam para construir as Ilhas Percebidas?

Sabe “a primeira impressão é que fica?” A primeira impressão pode estar errada pois seus habitantes utilizaram arquivos e modelos já guardados. Tem também modelos da própria experiência. Quando você entra em um relacionamento novo | nova ilha | e a pessoa faz algo muito parecido com seu/sua ex. Os habitantes procuram lá no projeto do seu\sua ex e verifica que o gestão de… cerrar os olhos significa desconfiança. Então você adiciona nessa nova ilha que a pessoa não confia em você.

Conhecer muito bem alguém seria criar uma ilha em seu mar bem parecida com a ilha original, criada pela própria pessoa no mar dela. Contudo, meio impossível você dizer que conhece bem alguém, pois a ilha da pessoa só pode ser vista por ela mesma. Então, por mais que você a conheça, sempre será a sua percepção da ilha, não exatamente a ilha.

Conselho LSE

Se você ainda não conhece a Liberdade Sociológica Empática, leia sobre aqui. Dentro da estatal, existe o Conselho LSE, responsável pela análise do projeto de ilha do outro indivíduo e reflete se faz sentido ou se a Construtora está inserindo modelos apenas socialmente fornecidos.

Um conselho autônomo, não apenas realiza a análise acima como atua de forma mais profunda, trazendo mais questionamentos, que realmente contribua para se projetarem ilhas mais próximas das originais. Voltando ao exemplo citado o Conselho perguntaria: “Muitos negros que conheço são pobres. Por quê?”

Distâncias

Para finalizar a parte sobre as ilhas percebidas, elas são móveis, flutuam na água. Imagine sua ilha no centro | pelo menos em você, você é o centro das atenções | e as outras ilhas percebidas em volta. Onde cada uma está localizada?

Depende de quanto você convive com a pessoa, não importa o motivo. Sabe o senhor que pega o mesmo ônibus, senta sempre no mesmo lugar e você fica duas horas da sua viagem de ônibus olhando pra ele? A ilha dele está bem próxima da sua.

Sabe o amigo amado? Anos sem se ver, se encontram do nada e ficam horas conversando, até os lugares fecharem? A ilha dele está extremamente distante de você.

Quando vocês se despedem um diz: “Vamos marcar alguma coisa!”. Nesse instante é necessário superar a quarta lei de Newton:

  • Quando partícula A exerce interesse vago em se encontrar com partícula B ocorre uma força recíproca, gerando um afastamento eterno.

Neste postulado newtoniano, a consequência imediata é: “Vamo sim!” , “Demorô”, “Bora”, “Vê um dia aí”, “A gente vai se falando”, “Me adiciona no face”, “É pra marcar mesmo!”, “Me manda mensagem” etc.

Einstein, determinista que só ele, baseado nas quatro dimensões da realidade, para a superação da quarta lei newtoniana, oferece um princípio usado em contextos extremamente específicos.

Pelo caminho de Einstein, ocorre: “Onde? Quando?”Assim, seu amigo volta a conviver com você e a ilha percebida dele vai se aproximando da sua, a medida do aumento do convívio.

Está achando estranho o desconhecido do ônibus estar bem próximo de você e seu amigão longe? A intensidade, importância e relevância da pessoa na sua vida vai depender das viagens dos habitantes.

Pontes de Afeto

Levei três textos para chegar aqui. Curioso que tudo começou daqui e meio que se desenvolveu para trás. Nem tinha pensado em como seria interessante explorar a ideia da ilha de cada um, por exemplo. Acabei por pensar em muitos detalhes, contudo vou tentar ser objetivo para preservar nossa possível | ou não | ponte.

A ideia de afeto aqui não é apenas a carinhosa. É mais do verbo afetar, um afetando o outro. Então, por isso, o afeto é a ação dos seus habitantes nas outras ilhas e vice-versa. Para isso, podem utilizar barquinhos ou pontes, de diferentes características ou formatos.

A saúde da relação se dará na exata adequação da ponte.

São quatro fatores que seus habitantes utilizam para desenvolver as conexões | barquinhos ou pontes | que permitem as viagens dos habitantes:

  1. Intensidade: Quando há muita troca, conversa, olhares, toques, enfim contato, há um maior fluxo de habitantes. Quando há menos, menor o fluxo;
  2. Relevância: Quanto maior, inclusive histórica, há uma melhor estrutura para as viagens entre as ilhas.
  3. Respeito: Passa a existir uma certa burocracia, com alfândegas e alguns tipos de controles.
  4. Encantamento: Aumenta o número de guias turísticos, músicas de recepção, biscoitinhos grátis, café e água na viagem.

Veja que assim dá para construir uma infinidade de conexões, cada uma sendo diferente da outra. Vale dizer que as pontes surgem apenas quando a intensidade e relevância são significativas. Quando não, é tudo com barquinhos.

Circulam canoas entre sua ilha e a ilha do cara do ônibus, mesmo estando próximas. Por outro lado, com a ilha do seu amigo, mesmo lá distante, há uma ponte muito bem construída, uma Ponte Estaiada com uma linha de trem japonesa. Por isso que toda vez que vocês se encontram, não param de falar.

Como são as pontes que seus habitantes construíram com as outras ilhas?

Viagens entre ilhas

Em seus primeiros anos de vida, sua ilha foi uma república socialista. Ao longo do tempo, com a chegada de habitantes estrangeiros por meio das pontes, começam a ocorrer privatizações.

De repente, você se vê num show de forró, gostando de rap. Habitantes da ilha de sua parceira atravessaram a ponte, entraram no prédio Gosto Musical e o privatizaram. Os habitantes que trabalham no Amar, dada a importância no momento paixonite seu, se sentem burgueses e começam a vender tudo da ilha para os habitantes do seu amorzinho, vendem até terrenos vazios. Seus habitantes, estupefatos, acompanham a construção do prédio Gostar de Teatro, sem nunca terem ido ao teatro antes. Gostos musicais, amigos, passeios, viagens. Isso aumenta o número de desempregados em sua ilha.

Quantos habitantes desempregados você tem?

Seu sonho é ter um carro. Você, mulher, casa toda linda. Seu marido já sabe dirigir, diz que você não é capaz de aprender. Mesmo comprando o carro juntos, mesmo seus habitantes chegando a construir Andar de Carro, você privatiza o terceiro andar Dirigir Carro, vende para os habitantes do seu marido.

Aqui temos um conselho LSE já privatizado. Ah, esqueci de falar. A Construtora das Relações também constrói as pontes e controla seus fluxos. Com um conselho dominado por homens, eles incentivam a privatização. Além disso, privatizado pelos habitantes do marido, eles mandam destruir qualquer outra ponte conectadas a outras ilhas masculinas.

Você conhece uma pessoa legal, se aproxima. Mas muito legal mesmo. De repente, milhares e milhares de habitantes começam a se acumular na ponte para se refugiarem na ilha da pessoa. Os seus prédios, sua ilha fica meio vazia enquanto seus habitantes vivem a ilha do outro.

Como um amigo diz,

Você é um bom entretenimento para seus habitantes?

Um conselho LSE privatizado, por meio de bônus nos finais de semana| cerveja, churrasco, baladas | incentiva seus habitantes a ficarem bastante tempo no prédio Trabalho. Já os prédios Família, Tocar Violão, sem falar no prédio Estudos, estão vazios.

Quantos prédios vazios você tem?

Dificuldade para realizar atividades físicas. Você até gosta de praticar alguma coisa, mas começa e logo desiste. Então encontra alguém que também gosta, já pratica, te ajuda e incentiva a fazer. Fica pegando no seu pé para treinar sempre. Aqui temos uma PPP: Parceria Público-Privada.

Um exemplo meu. Por um determinado tempo, habitantes da outra ilha passaram a trabalhar no meu prédio Andar de Bike me ajudando a voltar a pedalar. Depois de um determinado tempo, já coloco a bike de volta para a rotina. E alguns dos meus habitantes, empolgados, viajaram para a outra ilha e passaram a trabalhar lá, só que no prédio Correr montanhas. O setor Ajudar o Outro da Construtora das Relações fica bem cheio de habitantes pedindo autorização para viagens.

Saúde

Aqui se encerra minha estrutura do UEM² focada na saúde e, principalmente, nas relações saudáveis. É uma metodologia com três princípios:

  1. A felicidade só existe como possível consequência de uma vida saudável: Vida Vivida próxima da Realidade Necessária;
  2. Os habitantes da sua ilha precisam estar bem, vivendo em você;
  3. As relações saudáveis desempenham papel central nos outros princípios.

E três estruturas:

  1. As ilhas são as pessoas, tendo a sua no centro e todas as demais no entorno, construídas por você;
  2. Há habitantes em todas as ilhas, que trabalham em cada uma, mas também viajam entre elas, afetando-as mutuamente;
  3. As pontes de afeto, que permitem as viagens, variam entre intensidade, relevância, respeito e encantamento.

Agora é com você. Como já desenhou sua ilha, desenhe as pontes. Pense em como os habitantes das pessoas com as quais convive te afetam e como seus habitantes as afetam, e se pergunte:

É saudável?


Leu tudo? Óia. Agora só falta comentar e compartilhar!


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