Vai dar no quê isso aí?
Ser do povo não significa ser incapaz de comandar um país, tal como ser da elite não garante que seja capaz. Nos textos anteriores defendi que o presidente eleito em 2018 é um legítimo representante do povo. Talvez possa ter me expressado de alguma forma favorável à sua eleição. Não. Será um péssimo presidente. Aqui vou falar sobre ele, preocupado se estou registrando provas contra mim. Essa preocupação já diz muito.
Extrema direita inevitável
Antes, vale dizer sobre esse fenômeno de extrema direita presente no mundo todo. Quem diria. No final da década passada eu imaginava que as fronteiras cairiam e surgiria um conselho global formado pelas maiores empresas do mundo. Os fantoches de estados, governos e partidos seriam totalmente eliminados| dá muita dor de cabeça | pela nata econômica e ela assumiria as rédeas do mundo de forma mais transparente. Sim, você acabou de ler minha hipótese mais pessimista.
A hipótese mais otimista diz que, como temos pela primeira vez na história da humanidade um referencial único para deixar claro o que pode ou não pode se fazer com um ser humano | os direitos humanos | ao longo dos anos, isso levaria a nossa espécie ao desenvolvimento social pleno, pois teríamos um horizonte de humanidade descrito em um documento legitimado por boa parte dos estados do mundo. Talvez minha visão mais otimista de fato se confirmou, mas gerou um presente tão ruim quanto minha hipótese pessimista.
Em nenhum momento da nossa história houve igualdade, democracia, equidade e essas coisas. Uma das coisas que nos diferencia de todas as outras espécies é a capacidade de explorarmos nós mesmos, de enxergar um igual como diferente, menor, mais fraco, errado etc.
Não sabemos compreender um outro humano como humano igual a nós mesmos.
E o presidente eleito é um espécime com tal característica mais evidente. Então ele, em nosso país, simboliza este movimento de extrema direita mundial empenhado em combater a igualdade entre indivíduos e povos, por meio de estados totalitários. Para conseguir sucesso, o presidente eleito revestiu sua ação com o antipetismo, que foi inicialmente construído pela direita, desde o Mensalão de 2009.
Por isso ouso dizer o quanto é lógico ter surgido e crescido um concorrente de extrema direita. Se não fosse a pessoa eleita, seria algum outro, um pastor, desses aí, diria um amigo. Mas ser um militar é mais óbvio ainda para uma pátria acostumada a classificar justiça social como bagunça e definir o militares protetores da ordem e do retroc… progresso. Nosso exército tem muito mais função de reprimir brasileiros do que impedir estrangeiros.
Polícia para manutenção, militares para correção das classes sociais.
Mas como Brasil é Brasil, nem a extrema direita acertou, de primeira, no cara para levá-la ao poder. Seria obviedade eu, progressista, criticar alguém de direita ou extrema direita. Mas um especialista em tortura, militarismo criticar o futuro presidente, já nos mostra que o presidente eleito não seja, nem para os planos totalitários da direita, o melhor indicado.
Soluções simples para problemas complexos
Hitler, em apenas uma década, controlava as maiores nações do planeta. Em dez anos os nazistas dominavam um continente. Ele tinha um plano, princípios, lógica, projeto. E, principalmente, uma equipe leal, competente, estratégica. Antes de achar estranho elogios a um nazista, lembre-se que a pólvora pode ser usada para armas ou fogos de artifício.
Ao escutar seus discursos, tanto na campanha como já depois de eleito, no segundo turno, nosso presidente demonstra parecer ser muito fácil exercer o cargo. No poder é só chegar e resolver as coisas. Tanto sua fala quanto seu plano de governo promete um país sem igual, mas sem dizer como chegar lá, na verdade sem dizer nada. Isso se aproxima da sua vida política: um grande vazio de três décadas.
Então já evidenciamos uma ausência marcante: projeto. Não parece haver qualquer lógica de governo, com clara dificuldade de a própria equipe estar coesa em um discurso, com ministros vindos de diferentes direções e interesses. A impressão que dá é a de que o presidente se empolga com qualquer ideia que apareça. Se você tem um plano para explorar o país, agende o quanto antes uma reunião com o presidente eleito, vai que ele aceita. Ah! Mas claro: para colar precisa dizer que seu projeto vai combater o antipetismo, ou melhor | não cola mais, afinal, a eleição passou | , agora é combater o comunismo.
Comunismo
Comunista é o nome dado para qualquer pessoa que discorde | de qualquer coisa |no mundo sob influência do imperialismo americano. Para resolver as coisas do Brasil, o único plano do presidente será culpabilizar os comunistas | quem discordar | pelos problemas e depois combatê-los. Não, não. Não os problemas. Os comunistas mesmo.
Esse combate é lá do século XX, pós segunda guerra, quando o mundo ocidental utilizava o comunismo como justificativa para atrocidades, principalmente em relação aos direitos de nações e povos. O uso dele já é tão, mas tão distante, no tempo e no conceito, que as forças progressistas nem deveriam se importar com o mau uso. Inclusive deveriam deixar de usar. Sim, a esquerda também parou lá atrás, na Revolução Russa e no marxismo. Até o próprio EUA atualizou o termo, pós 11 de setembro, ao utilizar terrorismo como capa de seu imperialismo. Falando nele,
Tem coisas que só por ser a maior economia e ter o maior exército do planeta lhe permite fazer.
Por exemplo: construir muros na fronteira, reconhecer capitais que o mundo não legitima, quebrar acordos e protocolos internacionais, governar pelo Twitter. Mas quando um país ainda em busca de consolidação no cenário internacional | como o nosso | decide fazer as mesmas coisas, é alucinação mesmo.
A alienação do presidente eleito em relação aos EUA é tão grande, tão evidente que até usar o Twitter ele usa também. Prestar continência para um qualquer do governo americano ou seguir os passos de Trump em relação a Israel, demonstram essa subordinação com fisionomia de respeito.
Olha o caldo: seguidores cegos, falta de noção conceitual, ausência de plano ou projeto, adoração pelos EUA, e ainda várias forças da extrema direita querendo aproveitar o bonde. Vai dar no quê isso aí?
Hipóteses
Esse texto foi escrito antes da sua posse. A sensação é que não dá para ter uma ideia clara do que vai acontecer com o país em 2019, mas vamos fazer uma listinha de possíveis cenários apocalípticos:
- O país se torna extremamente instável, com decisões internas e em relação aos outros países, desastrosas; a nata econômica utiliza um dos milhares de escândalos que continuaram aparecendo, para estruturar um impeachment; derruba o governo dentro do prazo para novas eleições; tenta emplacar o Chuchu de novo ou alguma nova liderança que apareça, vinda do mercado;
- Americanos compram | ainda mais |empresas públicas e privadas daqui, assumimos de vez nosso papel de colônia e mensalmente, damos um quinto de réis das nossas riquezas para a metrópole americana;
- Sergio Moro percebe a faca e o queijo em suas mãos: com superministério e um presidente fraco. Ajuda a manter o governo durante os quatros anos; candidata-se, ganha a eleição de lavada e se torna uma figura praticamente indestrutível, algo como um Dredd presidente.
- O combate ao comunismo acontece. Em duas frentes: institucional, por meio da polícia e exército, caçando pessoas contra o governo, como por exemplo, o que lhes escreve; e a frente civil, os bolsominions, armados e idiotizados, caçando minorias e esquerdistas | comunistas | aos finais de semana, nos recreios, pontos de ônibus. Um pré-cenário de guerra civil.
O que não há é um cenário onde as coisas melhorem, porque, inevitavelmente, mesmo que eu erre em minhas projeções, uma coisa tenho certeza: vai dar merda, tá ok?
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