Eu?
Excepcionalmente, neste texto, teremos uma coleção de perguntas a serem respondidas |normalmente começo com uma e só | pois é o texto de apresentação, o primeiro a ser lido | apesar de ser o sétimo| e aquele que falo sobre mim, quem sou, os assuntos que rolam por aqui e, por fim, em que exploro o que o Neko faz aqui.
De onde tu és?
Quando estava no início da adolescência, eu e minha irmã ganhamos um computador, um potente 486. Não! Foi um 586. E chegou com o seguinte alerta do meu pai:
Não conte para seus amigos que você tem computador.
Necessidades relacionadas à sobrevivência, nunca passei: fome, frio, nem ficar sem remédio. Dentro de casa, sempre tive o mínimo e até um cadim mais. Tive videogame, computador, autorama. Esse pouquinho a mais, no meu caso, se transformou em alguns brinquedos mais relevantes. E só.
Em todo caso, essa condição acima do mínimo me permitiu ser visto onde cresci | a Periferia | como quase riquinho. É curioso agora, pensar nisso, depois de entender o que de fato é ser rico. Ou ser classe média. Ou ainda depois de melhorar minha própria condição. Veja, só foi possível ser olhado dessa forma por ter vivido com outros que tinham menos, ou muito menos do que eu, colegas e amigos com quem convivi ao longo dos anos, principalmente na escola pública, lugar privilegiado da diversidade.
Conviver, no meu caso, foi mais observar do que qualquer outra coisa, considerando minha timidez. É, sou tímido.
Tímido?
Uma vez, em um amigo secreto, havia um integrante que todos os demais tinham acabado de conhecer, mas sendo legal como só ele, logo já fazia parte do grupo e da brincadeira. A pessoa que me tirou disse “Mesmo convivendo com a pessoa que tirei há um bom tempo, eu o conheço menos que nosso colega aqui, que convivo a um mês”.
Até eu descobri na hora que fui eu quem ele tinha tirado!
Mas alguém me ensinou uma palavra mais bonita e adequada para usar no lugar do tímido: reservado. Isso, sou reservado. Todo indivíduo reservado é introvertido? Talvez.
O fato é que meu cachorro, indiscutivelmente, interage melhor com os indivíduos da minha espécie do que eu. Também, ele não precisa puxar assunto. Tenho dificuldade em criar assunto do nada. Na hora, fico lá… Sempre parado, pensando em bilhões de coisas para dizer até conseguir me perder nelas e a pessoa ir embora. Mas tem gente que domina essa arte.
É uma arte extremamente complexa transformar em voz um assunto atrás do outro, por meio de leves conexões entre eles, sem pausa, de forma contínua.
E como você é professor?
Não basta ser professor, para piorar, caminhei para a Educomunicação que é uma salada entre a Educação e a Comunicação. Imagine, um introvertido estudando um paradigma que é todo construído, resumidamente, em cima da palavra diálogo. Coisas da vida…
Às vezes, a gente define um sentido para a vida e, a partir disso, segue o caminho. Mas acho que na maioria das vezes a gente segue um caminho e só depois dá um sentido para ele.
E lá foi o menino reservado a caminho do magistério, sem nunca ter sonhado em ser professor e ainda em busca de algum sentido para a vida, para o trabalho. Estudei no CEFAM, em um projeto | não existe mais |que juntava o ensino médio com o magistério: estudava-se em período integral durante quatro anos e, ao se formar, te entregavam um diploma de professor.
Fiquei, me formei, comecei a dar aula, bem mal inclusive. Em outro texto escrevo sobre essa coisa de ensinar e aprender. Só sei que tinha orgulho de pagar meia no cinema e dizer “Sou professor do Estado”.
Atualmente trabalho com formação de professores, em um contexto muito especial, porém durante boa parte da minha carreira fui professor de crianças pequenas, sendo este o ambiente mais gratificante que trabalhei. Por isso prefiro sempre me definir como professor de Educação Infantil. Na época, desenvolvi um projeto bem legal, talvez o que mais tenha a ver comigo, chamado TV Cedro Rosa. Para divulgá-lo pelas redes sociais, | o twitter cumpria bem esse papel na época | criei uma nova identidade virtual, porque gmails com meu nome e sobrenome em diferentes formatos não estavam mais disponíveis.
O que significa marklienista?
Na quinta série fui apresentado ao mundo da literatura burguesa. Sim, até aquele momento nunca tinha lido algo literário. Nadinha de nada. Gibi, enciclopédia, jornal e revista velha, afinal de contas, não são literatura, pelo menos, não burguesa. Dias desses, descobri que havia lido meu primeiro livro infantil já com quase duas décadas de vida, devido à minha profissão de professor. Provavelmente boa parte da população em contextos socioculturais parecidos ou com menos privilégios nunca deve ter lido um livro infantil, ou se leu, foi na escola. E foi esta escola que definiu a minha relação com nosso idioma.
Sempre odiei e continuo odiando| se eu disse sempre, já significa que continuo? Olha aí, que enrosco | a Língua Portuguesa, pois não tem lógica nenhuma. Não, não tem. Matemática tem, Física tem. Essa ausência de padrão até encanta algumas pessoas, mas para mim é uma relação conturbada,no que diz respeito à construção de frases e principalmente em relação à sintaxe e à morfologia das orações. O uso da vírgula, por exemplo, encontrei uma boa regra para utilizá-la: “insira a vírgula quando seu coração pedir“.
Falando nela, lembra daquela história de colocar vírgula para respirar? Uma pausa para a respiração. Seguindo essa regra da quarta série, nadador vai diretão até o ponto final, com parágrafos de 25 metros. A pessoa com problemas respiratórios, a cada palavra, joga uma vírgula. Olha, uma sugestão: a quantidade de vírgulas utilizadas por um indivíduo poderia ser usada como indicador de sua saúde respiratória.
Meu exame de vírgulas deu 3/parágrafo, dentro do recomendável pela OMS.
Pelo menos a ortografia das palavras, morada de uma comunidade inteira de excepcionalidades ,| maçã não poderia ser massam? | é algo mais tranquilo para mim, pois de fato a leitura ajuda nisso. Normalmente escrevo corretamente, mas meio fora de ordem, nessa dificuldade de compreender regras e regras em relação ao uso das palavras.
Aqui já fica evidente o meu maior desafio nesse espaço: escrever com letras e suas ilógicas, tendo que seguir milhares de regras e centenas de exceções histórico-linguísticas. E ainda usar as vírgulas.
Ah, seu eu pudesse escrever com números.
Ei, uma vez escrevi e foi para colar, acredita? Eu sei que preciso explicar o marklienista, mas deixa eu contar só mais essa. No CEFAM, tive uma professora muito exigente, vamos dizer. Em uma de suas provas caiu os quatro anos de publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Eu sabia escrever em código binário, aquele que utiliza zeros e uns. O que eu fiz? Escrevi os quatro anos da legislação na mesa. A professora passou uma por uma para conferir se havia alguma cola e claro que, ao ver um monte de bolinhas e tracinhos, não entendeu e deixou passar. Hehe. Mas juro, foi a primeira de apenas duas vezes que colei.
Voltando… além da horripilante gramática na quinta série, precisei ler um livro literário. Não me lembro muito bem qual critério utilizei para escolher um livro, talvez aquele que a gente sempre usa, | a menor quantidade de páginas possível| escolhi O Alienista, do Machado de Assis. Pegou a referência? É, uma linha bastava para explicar:
Marklienista, inspirado em O Alienista, de Machado de Assis.
Amei o livro, li novamente um tempinho atrás e continuo amando. Se você também já o leu, saiba que este que lhe escreve não tem suas faculdades mentais equilibradas. E nesse desequilíbrio acabo por pensar muito sobre muitas coisas.
Então, marklienista, escreves sobre o quê?
Apesar de ser reservado, às vezes encontro pessoas especiais que, juntos, conseguimos ficar por horas conversando até os lugares fecharem, sobre muita coisas. Com uma delas, chegamos a definir as corriqueiras pautas:
Basicamente sobre nada e tudo.
Esse é o tema principal dessa minha aventura em escrever. Não é auto ajuda, não é explicativo, não é crítica social, nem ficção, nem autobiografia, nem prosa, ensaio ou academia. E é tudo isso. Nem sei se é para mim, ou para você, ou para ninguém, talvez você me ajude a descobrir. Enfim, só sei que é assim. Agora, a pergunta que importa:
Por que sempre tem seu cachorro?
Primeiro, porque o Neko é fofo. E eu não sei com qual espírito | energia | você chegará aqui para ler.
Mas se seu coração estiver um pouquinho fechado, o Neko abre.
Como disse, ele interage e cumprimenta muita gente nas ruas, esquinas e frentes de comércios. Isso me permite dividir toda humanidade em três blocos, distintos. Aquelas que respondem o cumprimento e conversam com ele são as pessoas legais. Obviamente quem ignora uma coisa tão receptiva e carinhosa é uma pessoa chata. E há ainda o grupo das pessoas legaizinhas, são aquelas que só dão uma olhadinha para ele e soltam um sorrisinho. Gostamos de andar bem cedinho, encontrar pessoas legalzinhas, mas cansadas da rotina, da exploração, do trem lotado, do café da manhã corrido e arrancar sorrisinhos delas. Não sei o Neko, mas fico com a esperança de ter melhorado um cadim o dia delas.
Não sei se ler meus textos vai melhorar o seu dia, talvez o Neko sim, por isso ele é uma das minhas marcas. A outra é começar sempre com perguntas.
Por que sempre começar com uma pergunta?
No meu cotidiano, naqueles momentos em que não estou preocupado em pagar meus boletos | trabalho| ou não estou usufruindo dos boletos pagos | lazer | penso sobre qualquer coisa. Às vezes, algo que alguém disse, uma frase, ou algo no ambiente, na mídia, em mim. Os pensamentos se iniciam quase sempre com uma pergunta, ou com
A angústia, que é a pergunta em forma de coração.
Causa as reflexões, duráveis por um tempo, até chegarem a algo que podemos chamar de resposta. Após a chegada dela, vem o silêncio na mente, como se estivesse se preparando para a próxima pergunta. É como se fosse um trem.
A Estação é a pergunta. Você embarca nela, percorrendo a resposta até chegar à próxima parada: outra pergunta.
Não existe a Estação Terminal | A Grande Verdade| pois o conhecimento caminha para o infinito, contudo ele se constrói no percurso. E pode ser de forma muito sólida se entre uma estação e outra, houver muitas voltas e reviravoltas.
Portanto, os meus textos são como trechos entre estações, em que você pode embarcar na pergunta e levá-los para sua volta ou reviravolta, enfim, para a sua viagem.
Boas viagens!
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Bom texto…
Valeu!
E é assim, que “a gente” te conhece, se encanta e fica próximo. São 7, 8 anos, e talvez ainda não te conheça. Geninho!
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